Entrevista com Luís Miguel da Silva Carvalho
Por Espaço Aberto em Julho de 2013
Publicada na revista Nº 14Espaço Aberto – Porque decidiu frequentar o curso de MTC?
Luis Carvalho - Ao longo das atividades que vou desenvolvendo, tenho procurado encontrar respostas para muitas dúvidas que tenho nesta área. Uma delas era o porquê de não haver um trabalho mais integrado das várias valências, com raízes e bases teóricas semelhantes, e continuarem a funcionar como disciplinas distintas que, muitas vezes, não dialogam. Nessas formulações, decidi acrescentar à minha prática profissional mais meios de intervenção sobre os pacientes, prestando um serviço de maior qualidade. Das várias disciplinas que ia aprendendo, fui selecionando as que considerava resultarem melhor. Atualmente, aquela situação tem vindo de alguma forma a ser revolucionada, uma vez que começou-se a fazer estudos científicos sobre novas áreas. Creio que um dos principais acontecimentos que também contribuiu para essa revolução foi a introdução do Mestrado em Medicina Tradicional Chinesa no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Este curso veio introduzir na Universidade um certo controlo de qualidade, utilizando critérios de uma regulamentação interna que as instituições de ensino superior têm de ter. Também em virtude dos estudos científicos ali realizados, a maior parte deles muito bem conseguidos, surgiram respostas a perguntas e dúvidas que ainda subsistem relativamente a estas áreas. Ao longo dos 10 anos de funcionamento do curso, muito do conhecimento que existe em Portugal a esse nível tem beneficiado do trabalho que ali tem sido feito.
EA – Falta a legislação?
LC – Será preferível que surja mais tarde mas que venha como uma boa legislação, baseada em critérios adequados. É melhor assim, do que tentarmos remediar uma situação que esteja mal feita na sua origem. Nesse aspeto, o ICBAS tomou uma iniciativa louvável, pioneira em Portugal, e o processo de regulamentação devia seguir este exemplo. Devia ser olhado com muita atenção, porque é o futuro. Não quer dizer que o seu modelo seja o único ou o mais correto, mas é um facto de que foi o primeiro e o resultado de alguém que se movimentou nesse sentido e que tem feito o seu melhor para que se avance. Num país em que as pessoas são algo pessimistas e onde se diz que nada se faz, o que é um facto é que se está a fazer. Se há uma regulamentação em curso que não tem isto em conta, tenho que ser discordante. Em primeiro lugar, deviam ser ouvidos aqueles que trabalham de uma forma regrada e vigiada. Obviamente que um curso universitário tem que obedecer a critérios, o que nem sempre acontece no seu exterior. Nem todos obedecem à mesma forma de trabalhar e isso origina anarquia e descontrolo, em vez gerar uniformidade no ensino e na prática destas atividades. Os bons profissionais andam a sofrer pelo mal que os maus têm feito. Só através de uma regulamentação eficaz se poderá obter critérios únicos para todos e acabar com a anarquia ou descontrole que se verifica na formação e prática dos profissionais. A situação que se vive atualmente, onde não existe regulamentação, leva a que os bons profissionais sofram com as atitudes menos correctas de maus profissionais e que se coloque em causa a já provada credibilidade destas áreas de intervenção terapêutica. O paciente só vai ganhar com uma oferta variada de hipóteses terapêuticas, sendo que o ideal será ter várias possibilidades para quando uma falha. Creio que a pessoa deve ser livre de escolher a especialidade que quer que a trate de forma consciente. Assim como o profissional, tem de ter consciência de que se o caso não é para ele ou que não tem as indicações totais ou que deve ser tratado por vários profissionais, deve ter a capacidade de encaminhar o paciente. Penso que a situação que se verifica até agora é contrária a isto, assiste-se as pessoa a manterem os pacientes tempo de mais em tratamentos, não se estão a obter resultados mas não se dá alternativa, não se procura outra solução. Isto sai caro a todos os níveis, não só a nível monetário mas também a nível do bem-estar da pessoa. Como adepto das individualidades de cada profissão das terapêuticas não convencionais também não me custa nada aceitar, e penso que pode ser um bom principio a adotar, as multiplicas valências integradas num só profissional, como aliás foi o que eu senti necessidade de fazer. Chamar-se medicina integrativa, terapêuticas integrativas ou outro nome que se lhe queira chamar, tudo isso é uma questão de nome, o que interessa é a competência que o profissional irá ter. Deste modo talvez se resolvesse a falta de diálogo e conexão entre as várias especialidades. Penso que é um ponto de vista que cada vez é mais partilhado por muita gente e que a nível mundial é aplicado na realidade. Nesta altura começamos a entender que faz sentido saber um pouco de tudo. Sendo assim, na minha opinião faz sentido criar-se uma formação que tenha em vista a preparação de um profissional com várias valências integradas. Vejamos a questão da acupuntura para médico, lá está a medicina a chamar a si mais uma valência e a tornar o médico no tal profissional integrado. O fisioterapeuta faz acupuntura no tratamento de problemas músculo esqueléticos, mas nesta situação perde-se um pouco de alguma coisa porque é muito redutor que alguém que faz fisioterapia depois só use acupuntura. Ao usar apenas uma pequena parte, perde a mais-valia de um mundo mais vasto. E isto não é a melhor via de abordagem porque senão não existia a Medicina Tradicional Chinesa que engloba vários aspetos. Só um dos aspetos por si raramente consegue ser o definitivo a curar o problema.
Luís carvalho é Fisioterapeuta há mais de 20 anos. Formado em Osteopatia há mais de 10 anos, recentemente frequentou o curso de Medicina Tradicional Chinesa (MTC), no Instituto Superior de Biomédicas Abel Salazar.
ENTREVISTA MAIS VISTA
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