Índice
- 6 - Medicina Tradicional – Veículo de Saúde Mundial
- 20 - Paulo Lobão: Professor Universitário – Homeopatia
- 24 - Ana Ferro – Clínica de Saúde Integral (CSI)
- 28 - Rita Oliveira – Professora Universitária Fitoterapia
- 29 - Nuno Correia – Medico Internista – Assistente Universitário
- 30 - Anna Maimer – Médica – Instituto de MC em Heidelberg
- 32 José Pinto da Costa – Professor Jubilado – Medicina Legal
- 40 - Luís Miguel da Silva Carvalho – Fisioterapeuta – Osteopatia
- 42 - António Moreira e Maria João Santos – Terapeutas em Medicina Tradicional Chinesa
- 46 - Fernando Barros e Sandra Guimarães – Terapeutas em MTC – Sociedade Cientifica MTC
- 52 - Sebastião de Araújo – Presidente da ASIMI – Associação Internacional de Medicinas Integradas
Revista Nº 14 - Dezembro 2013
Editorial
A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem defendido ativamente a reforma e a melhoria da educação médica para atender às novas necessidades dos cuidados de saúde.
Nas últimas duas a três décadas, o interesse mundial na medicina tradicional tem crescido substancialmente em muitos países, iniciando esforços para melhor integrar e regular estas práticas e produtos terapêuticos. Como consequência deste crescente interesse e consumo de produtos de medicina tradicional e dos seus serviços clínicos, houve ainda uma expansão significativa em programas de educação, que se têm concentrado fundamentalmente na medicina tradicional chinesa.
Desta forma, a oportunidade da proposta de lei atual sobre formação e prática das “Medicinas Complementares” urge, por estas ocuparem um papel cada vez maior nas sociedades ocidentais e na formação académica. Avalia-se que 60 a 80 por cento dos doentes com doenças crónicas procuram os chamados “remédios alternativos”. No contexto das Medicinas Complementares, a Medicina Chinesa tem-se revelado com um caráter muito afirmativo e apelativo, mesmo fora da China, onde aproximadamente 800 milhões de pessoas são tratadas regularmente por métodos da Medicina Chinesa. Como é sabido, esta medicina inclui técnicas básicas específicas (Fitoterapia, Acupuntura, Tuina, Dietoterapia e Qi Gong) e está largamente associada a outras práticas terapêuticas, como a Osteopatia, a Quiroprática, a Homeopatia e a Naturapatia formando, no conjunto, a medicina Holopática.
O total de tratamentos em Medicina Chinesa é difícil de avaliar, por haver poucos dados nesta matéria. Contudo, é entendido que os EUA é um dos países de grande expressão nesta temática, onde estas práticas são naturalmente incorporadas em grandes centros clínicos e departamentos hospitalares universitários como uma mais valia para a medicina integrativa. Por outro lado, em 2003, o governo de Hamburgo fez um estudo sobre a utilização dos tratamentos de Medicina Chinesa, juntamente com a Associação Alemã de Medicina Tradicional Chinesa (ISCMA). Os dados mostraram que todos os tratamentos, serviços e material baseados na Medicina Chinesa mobilizaram aproximadamente um valor total de 3,2 biliões de euros por ano, que correspondem a 40 euros per capita na Alemanha. Se aplicarmos estes dados a Portugal, poder-se-á estimar um valor de 400 milhões de euros por ano gastos em Medicina Chinesa. A taxa de aumento está estimada em 10 a 20 por cento/ano.
Estes dados demonstram bem que a Medicina Chinesa está em crescimento. Contudo, no ensino superior estatal, a formação em Medicina Chinesa está ainda pouco instituída no ocidente. Esta situação tem criado problemas no controlo de qualidade dos tratamentos efectuados, muitas vezes realizados por pessoas não qualificadas que executam técnicas que não dominam e oferecem programas formativos displicentes, tentando administrar cursos não certificados a profissionais médicos e paramédicos, para quem estas técnicas são atractivas em primeira instância. Neste contexto, poder-se-á dizer que o grau de exigência e a qualidade do ensino ministrado está muito longe de se afirmar, não havendo nenhum organismo de controlo nesta área de conhecimento, gerando uma situação insólita: nos cuidados de saúde pública proliferam clínicas e estruturas obsoletas e negligentes sem o mínimo de acompanhamento académico e científico.
Para ir ao encontro das solicitações crescentes de informação, educação e pesquisa por parte de especialistas médicos e terapeutas na Medicina Tradicional, vários passos foram já dados de forma consistente e serena no sentido de ultrapassar esta situação e promover um lugar cimeiro neste campo em Portugal e na Europa. Neste sentido, propusemo-nos dedicar este Espaço Aberto a um diálogo, cuidado e sem preconceitos, entre várias entidades e profissionais da área da saúde para melhor avaliar o potencial destas terapias como complementares da medicina convencional.
Maria de Fátima Ribeiro