Eduardo Amarante

Da mensagem Esotérica Dos Templários á Missão de Portugal no Mundo. (Parte I)

Por Eduardo Amarante em Junho de 2022

Tema Sociedade / Publicado na revista Nº 27

A Ordem do Templo, Fundada no século XII, teve um papel importantíssimo em toda a Europa, sobretudo no lado ocidental e, muito particularmente, em Portugal. 

Há um facto, um fenómeno que nos suscita uma questão: porque é que no imaginário português está tão presente e tão viva a história dos Templários e o seu ideário? Não é fácil encontrar uma resposta definitiva, pois falta-nos ainda muito para compreender na sua totalidade este fenómeno que foi a Ordem do Templo. 

Relativamente a este tema, a mensagem propriamente dita - que nem sempre é abordada e, por outro lado, existe um aspecto mais divulgado e extremamente importante, que é o dos símbolos e da história templária. Porém, este último aspecto sem a mensagem, sem o lado esotérico, equivale a um corpo sem alma, impedindo-nos de entender as causas profundas que moveram a Ordem do Templo. Convém, no entanto, esclarecer que o lado esotérico é muito subjectivo. O verdadeiro esoterismo não pode ser dito; o que se pode é propiciar o caminho para se chegar ao interior das coisas, às realidades que se encontram para além das aparências. 

Se recuarmos um pouco na história, veremos que os finais de Roma coincidiram com a perda dos Mistérios na Europa, que se trasladaram para o Oriente. Nesse momento aconteceu a queda do Império Romano que originou a Idade Média europeia. Oficialmente, Roma caiu em 453 d.C., mas, na realidade, já tinha caído aquando do assassinato do Imperador Juliano e a consequente perda dos Mistérios e dos valores do mundo clássico. A partir daí assiste-se a um interregno enorme, comummente chamado “Idade Média”, que é na realidade um período intermédio entre duas culturas, duas civilizações. Os Mistérios deslocaram-se, pois, para o Oriente e o pouco que ficou foi canalizado por determinadas personagens, a nível individual, e por algumas organizações. A primeira tentativa de fazer emergir a humanidade ocidental dessa terrível noite medieval nasceu com a Távola Redonda, o Rei Artur e o mito de Camelot, baseado no antigo esoterismo druídico celta. Cinco ou seis séculos mais tarde nasceu um fenómeno na Europa, uma personagem absolutamente excepcional, tanto sob o ponto de vista político como místico: São Bernardo. 

O contexto histórico do século XII proporcionou o advento de São Bernardo. Para além deste vulto de génio também surgiu a Escola de Chartres que muito contribuiu para o renascimento da antiga maçonaria de tipo egípcio na Europa. Os Templários, cuja Ordem foi fundada nos inícios do século XII, vão-se inserir perfeitamente neste portentoso fluxo de conhecimentos e espiritualidade, ao assimilarem os conhecimentos que a Escola de Chartres lhes propiciou, conhecimentos esses baseados na fusão do que restou dos antigos Mistérios de Roma com os Mistérios druídicos. 

Havia a necessidade de uma organização que fosse a catalisadora de todo esse fluxo espiritual. Por um lado apareceu São Bernardo e, por outro, a Escola de Chartres, com a qual se deu início à construção das catedrais góticas, autênticos livros de pedra lavrada repletos de significado simbólico e esotérico. Ali estava todo um manancial de saber que, depois, irradiou um pouco por toda a Europa. Porém, a nível de organização propriamente dita, actuando no campo político e esotérico, surge a Ordem do Templo. 

Os Templários apareceram com todo um conjunto de símbolos que tornavam evidente a sua missão para aqueles que os sabiam interpretar. Assim, quem sabia ler esses símbolos entrou imediatamente em contacto com a mensagem esotérica e aderiu, de uma forma intelectual ou prática, à obra que os Templários se dispunham fazer. Não foi uma obra dentro de um contexto isolado, já que houve condições para que a realizassem. Se assim não fosse, nunca poderiam ter feito o que fizeram. No entanto, há um dado que importa salientar e que, quanto a nós, é a parte mais interessante desta temática: é que eles não concluíram a obra ou, como diria Fernando Pessoa “há uma missão que falta cumprir”. Nesta base, falar do passado é extremamente importante, mas falar do futuro assente no passado não é menos necessário. O passado, não o podemos modificar; o futuro, ainda o podemos construir. 

Reflictamos um pouco sobre o significado da palavra TEMPLÁRIO. Eles pertenciam à Ordem do Templo, queriam construir um templo. A Ordem também tinha um outro nome: MILÍCIA DE CRISTO. Contudo, os Templários não se referiam em sentido estrito ao Cristo da Igreja Católica, mas ao Cristo Cósmico, porque Christos significa o Iluminado, que é o mesmo que Budha ou estado búdhico. Da mesma forma que Budha se chamava Sidharta Gautama antes de alcançar o estado búdhico ou a Iluminação, também Cristo se chamava Jesus antes de alcançar o estado crístico, ou seja, a Iluminação. Cedo os homens alteraram a sua mensagem, temporalizaram-na demasiado, tendo-se criado uma ou várias fracturas no cristianismo, a mais importante das quais no século IV, que deu à Igreja Católica Romana o domínio de todo o Ocidente e à qual todos deviam estar submetidos, sob pena de excomunhão. Ficaram de fora todos aqueles que seguiam a pureza do cristianismo original. 

Foram vários os movimentos que canalizaram esse espírito, nomeadamente a Gnose e, mais tarde - já que não iremos aqui fazer uma retrospectiva do cristianismo -, os Templários. Relativamente à denominação Ordem do Templo, é claro que, oficialmente, referiam-se ao Templo de Salomão; no entanto, este último só tinha importância para eles no seu aspecto simbólico porque, na realidade, o que eles queriam era construir o templo dentro deles próprios para, depois, se reflectir no exterior. Porquê? Porque, para os Templários, como para todos os que seguem a via esotérica, o Homem é o templo de Deus. O Homem é feito à imagem de Deus. Só que a parte feita à imagem de Deus não é o corpo físico, mas o Espírito. Quando se entendeu, erroneamente, que era o corpo físico que estava feito à imagem de Deus, antropomorfizou-se Deus e criou-se Deus à imagem do homem e não o Homem à imagem de Deus. Na verdade, o corpo é o receptáculo-templo que alberga o Espírito, como um templo de pedra também alberga o Espírito. Daí haver toda uma relação entre o templo-universo-macrocosmos e o templo/corpo humano-homem-microcosmos. Assim, verificamos que as igrejas de outrora eram todas construídas na base da relação entre o macrocosmos e o microcosmos. Exemplificando, a planta típica de uma igreja compunha-se da seguinte forma: 

a. havia uma nave central (linha vertical);

b. depois o transepto que cortava a nave (linha horizontal);

c. e a ábside (forma redonda). 


Este esquema representa o Homem com os braços abertos e com a cabeça virada para o Oriente. O templo tinha determinadas formas, regras e leis, pois interessava que ao entrar aí o Homem sofresse um processo de transmutação. É evidente que tudo isso é simbólico, mas havendo a forma adequada o espírito pode entrar nela. O templo estava sempre orientado, pois se não estivesse no eixo oriente-ocidente estaria desorientado. 

Ora, já temos um símbolo bastante indicativo do que pretendiam os Templários. Não iremos aqui analisar o número oito, mas sim o número cinco que tem mais diretamente a ver com o tema que agora nos ocupa e é uma das muitas chaves de acesso ao conhecimento interno da Ordem. Tomar, a segunda província templária no mundo, foi um foco importantíssimo de irradiação mística, espiritual e esotérica. Aí, na rosácea do pórtico principal da Igreja de Santa Maria do Olival - onde está sepultado Gualdim Pais, fundador do castelo e da cidade de Tomar -, está inscrita uma estrela de cinco pontas sobre uma rosa com as pétalas abertas. É clara aqui a relação entre a rosa e a cruz, à semelhança da que foi recentemente descoberta no interior do próprio castelo e que despertou, finalmente, a atenção dos nossos historiadores oficiais, ou seja, exotéricos. Começa-se, assim, a relacionar todo o simbolismo existente entre a Rosa e a Cruz.

A estrela de cinco pontas representa o microcosmos/homem, o quinto princípio humano - mente superior ou parte espiritual. Representa igualmente aquilo a que Fernando Pessoa chamou o quinto império, porque o quinto elemento é aquele que emerge do quatro, do quadrado. Se tivermos um quadrado e traçarmos duas diagonais, o seu ponto de intersecção é o quinto elemento e, se lhe dermos profundidade ao elevar esse ponto central, obteremos uma pirâmide de base quadrada e quatro lados triangulares que dá o número sete, símbolo da realização humana completa. 

Eduardo Amarante


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