Ansiedade – a face oculta da pandemia
Por Dorval Tessari, Claúdia Tessari e Carine Oliveira em Setembro de 2020
Até bem pouco tempo atrás, algo como 6 meses, a humanidade seguia seu rumo a um destino imaginário, cercado de segurança e de uma ilusória prosperidade. Mesmo nos piores pesadelos que poderíamos ter, esse caminho parecia estar imune a qualquer interrupção. Ouvi centenas de vezes a expressão “do jeito como as coisas estão, algo deve acontecer para que tudo isso mude”. Inclusive eu, proferia essa sentença. Minha avó, tinha por hábito dizer para minha mãe e ela para mim que “nunca se deve dizer aquilo que não quer que aconteça porque, um dia, os anjos poderão dizer amém”. Então, a pedido de todos, veio a infecção pelo COVID-19 para satisfazer as nossas exigências mais profundas de mudança. Mas nesse intervalo de tempo, entre o pedido feito e a satisfação das exigências, nós esquecemos de combinar com esse alguém, que iria executar as reformas necessárias, a intensidade das mudanças impostas. E aí, como se costuma dizer: “a coisa chegou, chegando”.
Sabe-se que o vírus começou a circular muito antes do divulgado, tanto no Brasil quanto no mundo. Ainda hoje, nossas atitudes sociais indicam que continuamos a levar a vida como se fosse uma festa de adolescente isenta de consequências em nossas vidas e na dos outros. Inúmeras demonstrações de inadequação surgem a cada dia, como a ausência de uma postura respeitosa de nossos representantes políticos, a falta de coordenação de uma politica nacional de combate a propagação viral, as festas privativas que são focos de disseminação, as corridas despretensiosas nas beiras de rios, lagos e mares em detrimento a reclusão de famílias numerosas em um quarto, sala e quando muito, um banheiro, ou ainda uma simples confraternização para beber somente uma cervejinha. Socialmente, o sacrifício de um deveria ser o sacrifício de todos. Mas estamos longe disso acontecer. Propagamos aos quatro cantos do mundo nossa parcela de responsabilidade sem que isso, efetivamente se concretize em ações. Mas no túmulo dos esquecidos com suas histórias contadas em números de mortos, todos se transformam em iguais.
Se por um lado o vírus provoca uma mortalidade em torno de 2%, sua capacidade de transmissão é elevadíssima, o que traz um grande número absoluto de mortes, em um curto prazo de tempo. Sendo assim, o isolamento social se impõe como sendo a única medida efetiva para impedir a ativação do binômio “contágio-morte”. Com tudo isso em jogo, e sem alternativa viável, a economia mundial parou. Não somente isso, mas também, empresas pararam e muitas delas jamais reabrirão; o comércio estagnou; empregos sumiram da noite para o dia; famílias inteiras perderam o seu sustento; governos se mobilizaram para diminuir as consequências nefastas dessa onda mundial. Se de um lado, sentimentos de compaixão afloraram mundo afora, de outro, a face mais espúria da espécie humana se fez presente: a corrupção, em todas as esferas e em todos os países; aumento da diferença existente entre ricos e pobres, entre pobres e miseráveis. O campo de batalha está armado para um desfecho desfavorável a imensa maioria das pessoas. Os “muito ricos” ficarão mais ricos e o resto mais pobres.
As perspectivas, a longo prazo, são nebulosas, para não dizer inexistentes. Há uma desconexão entre as perguntas feitas outrora com as que são formuladas agora; as respostas, por conseguinte, inexistentes. Não sabemos absolutamente nada de como serão as nossas vidas em um futuro de curto prazo. Medidas de relaxamento social em países que tomaram medidas extremas de isolamento anteriormente, agora estão sendo assolados por uma nova onda de contágio. Temos exemplos recentes da Alemanha, dos Estados Unidos e da própria China. Na verdade, o vírus está nos colocando rédeas muito curtas para que possamos criar um novo modelo e ciclo de nossas vidas.
Nessa conjugação de fatores entre perguntas nunca feitas anteriormente e a ausência de respostas é que reside a ansiedade, definido como sentimento vago e desagradável de medo, apreensão, o qual é caracterizado por tensão ou desconforto derivado de antecipação de perigo, de algo desconhecido ou estranho. Afinal, ela existe em decorrência do ser humano ter a noção do tempo e na infrutífera tentativa de controlar as incertezas da vida. Com isso, vem a pergunta “e se eu não conseguir isso, ou aquilo?” Como essas respostas não são possíveis de serem respondidas em face da conjuntura atual, logo após o aparecimento da ansiedade vem o sofrimento. A obviedade da incerteza da vida nos leva a uma única alternativa para superar esse momento tão delicado: a esperança.
Esperança para que possamos nos reinventar, respeitando o limite imposto pela nossa finitude e pela do planeta, que já apresenta sinais de exaustão como a elevação da temperatura do planeta, da elevação dos níveis dos oceanos, das secas e das inundações, do aparecimento de infecções cada vez mais frequentes e danosas. Tudo isso, sinaliza que o nosso tempo de vida, da forma como vivemos está chegando ao fim. Esperança que possamos ter a capacidade de ver os sinais emitidos ao nosso entorno para que possamos ter uma verdadeira transformação interior para que após, coletivamente, nos transformemos. Subtrair a esperança é decretar uma sentença de morte, o que sem ela, nada poderemos fazer.
Dorval Tessari, Claúdia Tessari e Carine Oliveira
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