Patrícia Carneiro

A Criança Interior: Celebrar o Dia da Criança Dentro de Nós

Por Patrícia Carneiro em 2025-05-22

Tema Autoconhecimento / Publicado na revista Nº 40

A Criança Interior: Celebrar o Dia da Criança Dentro de Nós

Neste Dia da Criança, mais do que presentear os pequenos ao nosso redor, convido-te a voltar o olhar para dentro e perguntar: como está a tua criança interior?

Todos nós carregamos dentro de nós uma dimensão infantil — a que nas constelações familiares chamamos de criança interior. Essa parte da nossa psique representa os sentimentos, necessidades e experiências emocionais que vivemos, sobretudo nos primeiros anos de vida.

A Criança Interior: Ferida ou Saudável?

A criança interior pode estar ferida ou saudável. Quando está ferida, ela tende a manifestar-se de forma inconsciente através de sintomas emocionais, físicos, relacionais ou até profissionais. Dificuldades em manter relações saudáveis, bloqueios criativos, padrões repetitivos e doenças psicossomáticas podem ser reflexo de uma criança interior que chama por atenção e cura.

Quando está saudável, essa mesma criança torna-se uma fonte de alegria, espontaneidade, intuição e criatividade. Passamos a fazer escolhas mais alinhadas com a nossa essência, com coragem para viver com autenticidade e leveza.

Porque a Criança Interior Fica Ferida?

Desde a vida intrauterina até cerca dos 7 anos de idade, passamos por experiências emocionais profundas, muitas vezes sem a consciência necessária para processá-las. Quando não conseguimos dar uma resposta adequada a essas situações — por falta de segurança, apoio ou compreensão —, elas são arquivadas no inconsciente como feridas emocionais.

Para nos protegermos dessa dor, desenvolvemos o que na psicoterapia se chama de máscara: uma estrutura de caráter que age como um escudo, escondendo partes sensíveis e reprimidas do nosso ser. No entanto, essa energia não desaparece — ela acumula-se e, com o tempo, começa a manifestar-se nas repetições da vida.


A Repetição Inconsciente dos Padrões

Repetimos padrões porque a mente inconsciente tenta reviver, de forma simbólica, conflitos não resolvidos do passado. É como se procurasse uma nova oportunidade para curar o que ficou por sentir e expressar. Estas repetições não são falhas — são pedidos de cura.

A nossa criança interior é, portanto, a parte do subconsciente onde habitam as memórias da infância — com as suas dores, medos, carências e traumas. Quando ferida, ela torna-se uma face da nossa sombra: aquela parte rejeitada de nós que só deseja ser vista, compreendida e acolhida.

O Caminho da Cura Interior

A cura começa quando escolhemos olhar para essa criança com amor. Quando deixamos de a reprimir ou julgar e passamos a integrá-la. Isso significa trazer à consciência as emoções guardadas, permitir que elas existam, e trabalhar com elas com compaixão.

Este processo não é fácil — mas é profundamente transformador. Ao curarmos a nossa criança interior, resgatamos partes valiosas de nós mesmos: a nossa capacidade de amar, de confiar e de viver com autenticidade.

Enquanto essa criança interior não for acolhida, continuará a influenciar as nossas escolhas e atrair experiências semelhantes às do passado, numa tentativa inconsciente de ser finalmente ouvida.

Exercício: Visitar a Criança que Vive no Coração

Encontra um lugar tranquilo, onde possas estar contigo por alguns minutos.

Fecha os olhos suavemente e começa por respirar fundo… inspira… expira… deixa o corpo relaxar a cada respiração.

Agora, imagina que estás a caminhar em direção ao teu coração. Passo a passo, aproximas-te desse espaço sagrado dentro de ti, onde vive a tua criança interior.

Lá ao fundo, vês uma figura pequena. Aproxima-te com ternura. Essa criança és tu.

Observa como ela está — a sua expressão, o seu corpo, o seu olhar. Sente a sua energia. O que ela está a viver? O que precisa de ti neste momento?

Senta-te ao lado dela. Talvez possas oferecer um abraço, um sorriso, ou apenas a tua presença silenciosa.

Com amorosidade, pergunta-lhe:

 “O que precisas de mim hoje?”

Escuta com atenção e sem julgamento. Talvez surjam palavras, talvez apenas imagens ou sensações.

Antes de regressares, agradece-lhe por te permitir esta visita. Diz-lhe que estarás mais presente, e que estás comprometido/a em cuidar dela com consciência e carinho — que irás crescer enquanto adulto/a para aprender a lidar com as emoções dela com mais maturidade e compaixão.

Respira fundo mais uma vez. Mexe lentamente o corpo, trazendo-te de volta ao presente. Abre os olhos… e escreve aquilo que viste, sentiste ou ouviste da tua criança interior.


 

Boas curas!

Com carinho,

Patrícia Carneiro







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