O Homem e o seu tempo
Por Revista Espaço Aberto (Maria Ribeiro) em Julho de 2023
Américo Monteiro de Aguiar, nasceu na freguesia de Galegos, concelho de Penafiel, á uma hora da madrugada do dia 23 de outubro de 1887.
Seus pais, Ramiro Monteiro de Aguiar e Teresa Rodrigues Ferreira, queriam dar-lhe o nome de Adriano, mas no dia do seu batismo, o tio e padrinho exigiu que se chamasse Américo, em memória do Cardeal D. Américo, ao tempo Prelado portucalense.
Segundo alguns biógrafos, o filho de Ramiro e Teresa quis cedo ingressar no Seminário do Porto, ao que o seu pai se opôs. E assim em maio de 1899, entrou para o colégio do Carmo de Penafiel, onde era austera a disciplina, de que haveria de queixar-se asperamente Leonardo Coimbra, ali também aluno, que, entretanto, confessaria que a pedagogia adaptada o fez sonhar.
Em 28 de Junho de 1929 é ordenado presbítero.
Já nos tempos de seminário, como simples estudante de Teologia, se exercitava da caridade. Foi até por essa insistente prática que lhe negaram a profissão religiosa em Vilariño de la Ramallosa, e no dia da sua ordenação subdiácono, fez, por livre e espontânea vontade, um voto de pobreza, publicado pela primeira vez nas colunas do Correio de Coimbra a 2 de agosto de 1956:
“Em nome e por amor de Nosso Senhor Jesus Cristo, o grande Mendigo que me tem cumulado de riquezas sem conta, sem peso nem medida, declaro solenemente, humildemente, que nada desejo possuir, nem saber nem pregar senão a verdadeira riqueza que o mundo ignora e que se chama altíssima Pobreza do meu Senhor Jesus Cristo. E assim, com a consciência clara e visão segura das dificuldades, privações e responsabilidades da vida futura, quero ligar-me a ela por um voto de Pobreza sub gravi que hoje juro, humildemente, nas mãos do meu prelado, renunciando desde já a tudo quanto possuo ou venha a possuir, obrigando-me a viver pobremente do meu trabalho de cada dia e a entregar ao meu legitimo superior tudo quanto sobrar do meu legitimo sustento e decente vestuário.”
Nesta mesma altura entregou ao Prelado todo o dinheiro que possuía, as sobras do que ganhara em África.
Insatisfeito por natureza o Bispo de Coimbra entrega-lhe a Sopa dos Pobres à Rua da Matématica, repartindo pelos pobres o pouco que possuía, ele próprio escreve:
“Senhor, que eu seja sempre um padre pobre para cantar aos ricos a Pátria Celeste e pedir esmola para os pobres.”
Em 1940 o Padre da Rua estrutura a Casa do Gaiato, chegava, enfim a hora dos abandonados.
A primeira casa da obra nasce a 7 de janeiro de 1940 em Miranda do Corvo, poucos anos depois a 24 de abril de 1943, inicia a obra da Aldeia dos Rapazes em Paço de Sousa em Penafiel, e em 31 de maio chegam os primeiros rapazes, mas somente em janeiro de 1946 estes começam a viver em pleno nas novas moradias.
Ao chegar ao Porto depara-se com um espetáculo deprimente, não ficando indiferente ao sofrimento e á fome, na zona degradada da cidade Invicta, formava um aglomerado de casebres completamente arruinados, entre o monte do Seminário Maior e os arcos de Miragaia, e foi tal a aceitação da obra de rua que o Padre não se cansava de afirmar “ Ai Porto, Porto, quão tarde te conheci!”
“A Obra é toda Espiritual. As Casas do Gaiato são santuários de Almas.”
Podemos concluir que Padre Américo foi um inovador no campo pedagógico. Não leu nunca compêndios de pedagogia, e quando teve conhecimento da existência de realizações congéneres â Casa do Gaiato, já a sua obra estava em franco apogeu. Mera Coincidência?
“Orava em silêncio –mais praticando do que falando…”
Esta pequena frase resume toda a vida e ação de Padre Américo. Ele é de facto um místico na ação, o romeiro orante do tugúrio, o mestre de oração. “Orava em silêncio – mais praticando do que falando!”
A ESPIRITUALIDADE DO TEMPO DO PADRE AMÉRICO
O Padre Américo Monteiro de Aguiar foi um homem do seu tempo. Respeitou a sua época. Assimilou as diversas correstes espirituais então existentes, mas não se deixou prender por elas, no aspeto da piedade foi indiscutivelmente um verdadeiro inovador.
Ele vê o que até então ninguém vira. Trilha caminhos jamais percorridos pelos contemporâneos. A sua piedade, ao contrario do que acontecia então, está profundamente enraizada no evangelho. Conhece-o de cor. Começa a lê-lo no principio e vai até ao fim…e regressa novamente ao principio!
A Eucaristia é para ele o Cristo do Evangelho ali presente. Cristo Vivo. Palpitante.
Nasce em finais do século passado, o século das grandes devoções populares: culto do Sagrado Coração de Jesus, da Eucaristia, do Menino Jesus, de Nossa Senhora e dos Santos. Estas devoções não são aspetos secundários da Espiritualidade do tempo, mas componentes fundamentais dessa mesma espiritualidade.
O culto do sagrado Coração de Jesus propagou-se sobretudo graças ás “Missões Populares” paroquiais.
ORAÇÃO COM A VIDA
Toda a vida pode e deve ser convertida em oração. Do alvorecer ao anoitecer, todo o dia do cristão deve ser transformado em dialogo com o Altissimo.
Padre Américo oferece o homem a Deus. Oferece ao Criador a vida de cada uma das Suas criaturas, com as suas potencialidade, fraquezas e misérias. Oferece ao Pai a vida dos seus "filhos" e dos Pobres. Oferece-os a todos e a cada um com a riqueza própria dum corpo, duma alma, enfim, uma vida Humana.
Maria Ribeiro
Enciclopédia Wikipédia
Bibliografia Livro Padre Américo de José Rocha Ramos
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