NOVA ERA, Novo Despertar Espiritual (Parte I)
Por Daniel Faria em Dezembro de 2022
A GRANDE INVOCAÇÃO
Do ponto de luz na mente de Deus
Que flua a luz à mente dos homens
e que a Luz desça à Terra!
Do ponto de amor no coração de Deus.
Que flua o amor aos corações dos homens
Que Cristo retorne à Terra!
Do centro onde a vontade de Deus é conhecida,
Que o propósito guie a vontade dos homens,
Propósito que os Mestres conhecem e servem!
Do centro a que chamamos a raça dos homens,
Que se realize o Plano de Amor e de Luz
E cerre a porta onde se encontra o mal!
Que a Luz, o Amor e o Poder restabeleçam
O Plano Divino sobre a Terra,
Hoje e por toda a eternidade!
A Grande Invocação é uma oração que foi canalizada pela mística Alice Bailey
Diversos pensadores espiritualistas de diversas culturas e tendências preconizam que vivemos, na Terra, o momento de uma grande transição planetária.
As alterações que se observam são de cariz espiritual e ético, convidando o ser humano a uma transmutação do seu comportamento, a fim de que se instalem os paradigmas da justiça, da paz e do amor no nosso planeta Terra.
A ordem religiosa atual formou-se naquilo que Karl Jaspers e outros pensadores chamaram a era axial, esse extraordinário período histórico, entre o ano 800 e 200 antes da era comum, que testemunhou a consolidação do monoteísmo bíblico, o surgimento do zoroastrismo, do budismo e do confucionismo e o florescimento da filosofia grega.
A era axial acima mencionada tem diversas semelhanças com a era presente. Foi igualmente uma época caraterizada por diversas mudanças em matéria de tecnologia e da governação das sociedades. O crescimento demográfico e socioeconómico das sociedades provocou transformações políticas. As inovações tecnológicas, ligadas às comunicações marítimas, tornaram os mares em vias privilegiadas para a circulação de pessoas, bens e ideias.
As profundas transformações do mundo atual, cada vez mais globalizado e interdependente, juntamente com a busca incessante do ser humano pelo sentido da existência, criam as condições para impulsionar decisivamente o desenvolvimento espiritual da humanidade.
Além disso, a Terra está a atravessar uma zona do universo que se encontra exposta a fortes correntes energéticas oriundas do centro da galáxia Via Láctea. Há um realinhamento do nosso sol com o centro da nossa galáxia. Além disso, tem havido um aumento constante da atividade solar e a diminuição do campo eletromagnético da Terra, o que tem repercussões nas vibrações energéticas de todos os seres humanos e não humanos.
O mundo tem evoluído através de ciclos cosmológicos que podem ser identificados astrologicamente. Estes ciclos de 2.160 anos são as eras, cada uma com as suas energias cósmicas específicas, que marcam períodos específicos da história da humanidade, com a formação, a ascensão e o declínio de cosmovisões religiosas e espirituais.
Existem sinais de que a humanidade entrou numa fase de transição da era de Peixes para a era de Aquário.
Não existe unanimidade sobre o seu início. Há quem afirme que começou na década de 1960, outros colocaram o seu começo na convergência harmónica de 1987, há quem fale no ano de 2012 e ainda há quem aponte para além de 2100.
Apesar de não haver consensos sobre o seu início, existem evidências crescentes de transição de eras.
As eras não devem ser encaradas de forma estanque. Na astrologia, o signo seguinte carrega a energia do signo anterior, dado que o fluxo da energia cósmica é feito através desta interligação. O mesmo ocorre com as eras astrológicas.
Neste processo de transição para a era do Aquário, assume uma relevância especial integrar a verdadeira essência da era dos Peixes.
Se a era de Peixes está associada às grandes religiões institucionalizadas, merecendo destaque o cristianismo, à consolidação do patriarcado e a conflitos diversos, também é a era da consciência crística e do amor incondicional e universalista.
Com a transição para a era do Aquário, estão criadas as condições para o advento de uma nova era da paz, de fraternidade e da elevação da consciência humana, planetária e cósmica.
A GÉNESE DA NOVA ERA
A espiritualidade da Nova Era é uma via espiritual eminentemente mística. A palavra mística vem do verbo grego muo, que significa fechar-se, calar-se e, consequentemente, está ligada à iniciação espiritual.
O misticismo pode ser definido como a crença na possibilidade de uma união íntima e direta do ser humano com o Divino, o princípio fundamental do ser, uma união que é simultaneamente um modo de existência e um modo de conhecimento superior às formas comuns de conhecimento.
A mística tem um potencial especialmente poderoso no desenvolvimento das diversas tradições e experiências espirituais da humanidade. Com efeito, a mística carateriza-se pela relação direta e pelo conhecimento direto do Divino. A consciência mística é unitiva e não dual, integradora e compassiva.
A experiência mística, enquanto experiência simultaneamente íntima e imprevisível, é designada como “mística selvagem”, na medida em que se produz um despertar arrebatador para uma realidade mais elevada, como uma revelação do real para além das aparências, a união com a própria Fonte do Ser.
Para a compreensão a mística selvagem como experiência espiritual, pode ser evocado o conceito de “gnose selvagem”, formulado pela mística Rosamonde Ikshvàku Miller (1942-2021), fundadora e líder do Gnostic Sanctuary. Segundo Rosamonde Miller, a gnose selvagem pode ser definida como a experiência direta e transformadora, indomável e não condicionada por crenças culturais e sociorreligiosas; o estado anterior à interpretação da experiência; livre de conceitos e imagens. A consciência da gnose selvagem surge numa mente tranquila, numa dimensão intocada pelo tempo cronológico. Não antes e nem depois, mas aqui e agora.
Existe uma ligação estreita entre a Nova Era e o gnosticismo, entendido como o conjunto de tradições espirituais que valorizam a gnose como a experiência mística do Divino diretamente em si mesmo.
De facto, as raízes da Nova Era são profundas no tempo. Pode-se afirmar que as suas origens remontam aos primeiros séculos da Era de Peixes, ou seja, da nossa era comum, merecendo destaque o cristianismo gnóstico, uma linhagem do cristianismo baseada na identidade entre o divino e o humano, no foco pela ilusão e pela iluminação e na valorização da essência divina dos seres humanos.
Conforme assinala António de Macedo, um grande investigador português na área da espiritualidade, o cristianismo gnóstico lançou os fundamentos de uma escola iniciática de mistérios, de vastas repercussões históricas e sociológicas, ramificando-se ao longo de toda a Idade Média, do Renascimento e da modernidade, segundo escolas, tradições e correntes tão diversas como o maniqueísmo, o hermetismo neo-alexandrino, o catarismo, o templarismo, o trovadorismo iniciático, a filosofia oculta mágica de Heinrich Cornelius Agrippa, a cabala crista, a teosofia cristã dos séculos XIV a XVIII (Eckhart, Nicolau de Cusa, Paracelso, Giordano Bruno, Jacob Böhme, Johann Georg Giebrel, Emanuel Swedenborg, Karl von Eckhartshausen, etc.), o rosacrucianismo, a maçonaria, o neo-ocultismo novecentista, a teosofia moderna de Helena Petrovna Blavatsky e as correntes dela derivadas, entre outras, sem falar na variedade imensa de todos os movimentos e sub-movimentos da Nova Era.
Durante diversos séculos, os indivíduos e os grupos que preconizavam uma visão gnóstica da espiritualidade permaneceram na penumbra, devido à intolerância dos poderes instituídos das esferas política e religiosa.
A situação só começou a alterar-se a partir do século XVIII, com o desenvolvimento de sociedades baseadas no pluralismo e na salvaguarda das liberdades fundamentais da pessoa humana.
Não é fácil formular uma data ou um acontecimento que defina o nascimento da Nova Era. Porém, pode se apontar a segunda metade do século XIX e o século XX como início deste movimento espiritual.
O transcedentalismo norte-americano do século XIX, onde pontifica a figura de Ralph Waldo Emerson (1803-1882), o espiritismo de Alan Kardec (1804-1869) e a teosofia moderna, onde destacam-se Anne Besant (1847-1933), Alice Bailey (1880-1949) e, principalmente, Helena Petrovna Blavasky (1831-1891), fundadora da Sociedade Teosófica, podem ser considerados como os percursores da espiritualidade da Nova Era.
O Novo Pensamento, movimento de cura de inspiração cristã surgido no final do século XIX teve igualmente influência.
Na primeira metade do século XX, Paul Le Cour (1871-1954) anunciou a Era do Aquário como nova era que valorizaria a justiça, a comunicação mútua, a superação das fronteiras e o desenvolvimento de uma consciência planetária.
Carl Gustav Jung (1875-1961) teve igualmente impacto na Nova Era. Jung entendia que o desenvolvimento espiritual do ser humano não deve basear a fé numa fonte exterior, mas na experiência interior natural da alma, que sempre considerou como a fonte de toda a espiritualidade autêntica.
Há muito tempo que o Oriente tem exercido um encantamento irresistível no Ocidente, nomeadamente nos Estados Unidos da América. O aumento das relações entre o Oriente e o Ocidente e o fluxo crescente de muitos mestres espirituais asiáticos para os países ocidentais levaram à criação de centros espirituais e escolas baseadas nas espiritualidades orientais. Entre estes mestres asiáticos, podem ser citados os casos de Swami Vivekananda (1863-1902), Paramahansa Yogananda (1893-1952) e Osho (1931-1990).
Na década de 1960, surgiu um amplo movimento juvenil à escala planetária, que foi denominado como movimento de contracultura. Apesar da sua diversidade e heterogeneidade, este movimento defendia os valores da paz, do amor e da harmonia universal, perante a experiência considerada opressiva e alienante da vida nas sociedades vigentes. Dois dos símbolos mais relevantes do movimento da contracultura foram o festival de Woodstock, no estado norte-americano de Nova Iorque, em 1969, e a ópera musical Hair, que expôs os principais temas da Nova Era na sua canção emblemática "Aquarius". Criaram-se comunidades e grupos que propunham uma visão alternativa de viver a espiritualidade, a maior das quais situaram-se na esteira da Nova Era. Neste contexto, surgiu o Movimento de Potencial Humano, cuja principal premissa era a convicção de que o ser humano, através do desenvolvimento físico e mental, pode transcender o seu eu, encontrando desta forma dimensões místicas.
A música desempenhou igualmente um papel relevante na promoção da Nova Era. A música New Age, cósmica, positiva, sintética e fluida, atua ao nível sublimar da consciência, sobre um fundo de mensagem de esperança e de fraternidade universal. Este género musical é considerado como uma via para alcançar a harmonia consigo próprio, o mundo e o Todo, criando pontes entre o consciente e o inconsciente.
A parir dos finais do século passado, a internet e as redes sociais digitais tiveram um papel relevante na divulgação de projetos e ações de grupos e movimentos espiritualistas que se reconhecem na espiritualidade da Nova Era.
UMA TENTATIVA DE DEFINIÇÃO DA NOVA ERA
A espiritualidade da Nova Era apresenta uma dificuldade intrínseca à sua definição ou delimitação objetiva de seu campo e das suas práticas, tendo em consideração que uma das suas principais caraterísticas é a sua heterogeneidade.
A Nova Era pode ser considerada como uma rede global com referências comuns que liga vários grupos num vínculo pouco estável, sem caráter permanente e hierárquico necessários para se poder dizer que se trata de um movimento.
Esta rede consiste em pensar globalmente, mas agir localmente e dela fazem parte pessoas e movimentos que necessariamente não se conhecem uns aos outros e que não podem interagir ou encontrar-se. Um espírito alternativo às religiões institucionalizadas e a esperança de uma nova era, ou seja, a mudança da Era de Peixes para a Era de Aquário é aquilo que une esta rede.
Segundo diversos investigadores, como é o caso de Jean Vernette, a Nova Era ou New Age é, segundo os seus seguidores, um novo paradigma.
É necessário dizer uma palavra sobre a ideia de mudança de paradigma. Foi proposto por Thomas Kuhn, um historiador da ciência, que concebeu o paradigma como o conjunto de crenças, valores e técnicas, compartilhada pelos membros de uma determinada comunidade.
Quando decorre uma mudança de um paradigma para outro, surge uma transformação em bloco da perspetiva, e não um desenvolvimento gradual. Em suma, uma revolução. O conceito de paradigma pode ser aplicado a todos os domínios da atividade humana, incluindo a espiritualidade. Por conseguinte, preconizar que uma mudança de paradigma no campo da religião e da espiritualidade é simplesmente uma nova forma de formular as crenças tradicionais é um equívoco.
Com o desenvolvimento da Nova Era, o que está a acontecer é uma mudança profunda da cosmovisão espiritual.
A ideia essencial é que a humanidade está numa fase de mudança de paradigma, rumo a uma idade nova de tomada de consciência espiritual e planetária, ecológica e mística, de harmonia e de luz, marcada por mutações psíquicas profundas.
A Nova Era ou New Age pode ser considerada como novo paradigma, isto é, uma nova maneira inovadora de ver as coisas em todos os domínios: espiritualidade, ciência, saúde, educação, política, ecologia, arte, alimentação, etc.
Por conseguinte, serão abordados os principais valores fundamentais da Nova Era.
Daniel José Ribeiro de Faria
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