
Até que ponto é que o Reiki e o Qigong são idênticos?
Comecei com o Reiki por mero acaso graças a um voucher que me ofereceram. Adorei a sensação de relaxamento total que senti e achei curioso terem-me alertado para uma maleita física confirmada posteriormente por exames médicos. Depois de sentir os efeitos terapêuticos desta prática decidi fazer o Nível I de Reiki já lá vão 10 anos. Acabou por ser algo que não incorporei na minha rotina diária, mas a que de vez em quando recorro para restabelecer o equilíbrio ou relaxar. E confesso que escrever este artigo me veio despertar novamente para a prática de Reiki.
Quanto ao Qigong (também conhecido como Chi Kung ou Qi Gong) apareceu no meu percurso há cerca de 4 anos e tornou-se uma das práticas que mais prazer me dá diariamente. Após quase dois anos a viver na Ásia, onde tive a possibilidade de treinar Kung Fu, aprender e viver os princípios de saúde do Taoismo e dar aulas de Qigong, esta terapia tornou-se parte da minha rotina diária e uma fonte de serenidade e equilíbrio para mim.
O Reiki e o Qigong têm efeitos terapêuticos semelhantes a nível físico, mental, emocional e espiritual. Ambos possuem “força energética vital” (ki e qi) como a base da sua prática, pelo que se pode dizer que ambos promovem a saúde e o bem-estar através da mesma essência. No entanto, são bastante diferentes um do outro.
O que é o Qi ou Ki?
Qi é energia vital ou força energética vital. Pode ser chamada de respiração, energia, força vital ou essência. Pronuncia-se “xi” e, é o termo chinês que descreve a energia que dá vida ao corpo humano, ou que “anima” a matéria. Outros sistemas, referem-se a esta força energética vital como prana, ka, mana, pneuma ou wakan. Quando se fala de Qi ou Chi na Tradição Taoista ou Ki na Tradição do Reiki, estamos a falar da mesma força energética vital.
Quando nos tornamos conscientes de que tudo é energia e de que nós próprios somos Qi em movimento, tornamo-nos mais sensíveis às flutuações energéticas pelas quais passamos e podemos ativamente participar no estado da nossa energia vital.
O Reiki
Reiki é um método Japonês desenvolvido por Mikao Usui em 1915 no Monte Kurama perto de Kyoto. Após muitos anos a estudar Qigong, medicina, psicologia, filosofia e teologia , e sendo a dada altura confrontado com, de onde viriam os poderes curativos de pessoas como Jesus Cristo ou Buda, Usui entrou numa profunda investigação de mais de 10 anos que envolveu diversas viagens e que culminou num jejum de 21 dias no Monte Kurama, onde teve uma experiência iluminadora que lhe permitiu compreender esse “poder” curativo “incorporado” pelas “mãos” desses seres humanos. Começou assim a utilizar a terapia que viria a ser chamada de Reiki e ensinar outros a usar essa prática. Apelidou o sistema de Usui Shiki Reiki Ryoho (o sistema Usui de cura de Reiki) conhecido hoje em dia como o sistema Tradicional de Reiki. Usui passou o resto da sua vida a utilizar este método e viria a ensinar e iniciar como Mestre de Reiki o Dr. Chujiro Hayashi, um médico aposentado da marinha.
Hawayo Takata, uma senhora japonesa que nasceu no Hawaii em 1900, viajou em 1936 para o Japão para informar os seus pais da morte da irmã e para receber tratamento médico para problemas de saúde. Em vez do tratamento médico habitual, ela optou por sessões de Reiki e após 4 meses de tratamento estava livre de qualquer maleita. Recebeu treino sobre a prática de Reiki e acabou por trabalhar durante um ano na clínica do Dr. Hayashi antes de regressar ao Hawaii. Em 1938 o Dr. Hayashi viajou para o Hawaii, iniciando Takata como a primeira mestre de Reiki fora do Japão. Takata viria a treinar e iniciar vinte e dois outros mestres de Reiki e foi assim que a história ocidental do Reiki se iniciou.
A palavra “Reiki” (??) é composta por dois caracteres “rei” e “ki”. Ki é a tal força energética vital presente em todos os organismos vivos. Rei refere-se à energia universal ou dimensão energética cósmica, é a energia que permeia todas as coisas tanto animadas como inanimadas. Reiki é normalmente traduzido como “força energética vital universal”. No entanto, devido à forma como é utilizado, uma tradução mais completa seria “força energética vital de cura guiada pela energia universal”. O Reiki ativa e equilibra a força energética vital presente em todas as coisas vivas. O Reiki é bastante simples de aplicar. O paciente deita-se (ou senta-se) confortavelmente e o terapeuta procede à aplicação da técnica com as mãos junto de diversos pontos do paciente (normalmente, sem tocar na pessoa). Não existe a necessidade de fazer um diagnóstico, porque o sistema energético do próprio paciente absorve a energia à medida do que necessita. Existem técnicas direccionadas para o tratamento de dores agudas ou crónicas, de problemas físicos ou mentais e para atingir foco e clareza espiritual. Basicamente todos os níveis do receptor de Reiki (físico, mental, emocional e espiritual) podem ser tratados.O Reiki pode ser facilmente aprendido por pessoas de todas as idades (incluindo crianças). Ao contrário do Qigong que tem de ser instruído por um mestre qualificado durante bastante tempo, o Reiki é normalmente aprendido num seminário intensivo, por módulos ou níveis, sendo que a maioria do processo é apreendido através da prática regular. Existem três ou quatro níveis de aprendizado de Reiki – dependendo do sistema – que se desenvolvem ao longo do tempo e da prática e que culminam no nível de Mestre, onde o terapeuta aprende a ensinar outros. O Reiki pode ser aplicado a qualquer hora. Facilita a cura de distúrbios de todo o tipo e, se auto-aplicado diáriamente como uma prática meditativa, promove expansão, criatividade, saúde e alegria.
Qigong ou Chi Kung
Os registos escritos com referência ao Qi Gong remontam a 2.500 anos na China e existem também referências de técnicas idênticas a esta prática que datam 5.000 anos. As origens do Qi Gong são:
- Xamanismo Chinês, ligado à conexão da Humanidade e da Natureza, como meio de encontrar harmonia entre o corpo humano e os elementos da natureza;
- Taoismo, através da prática consistente de Qi Gong acreditava-se que o espírito e o corpo estavam em equilíbrio, semeando-se a harmonia entre Yin e Yang;
- Budismo, em que certos tipos de Qi Gong foram desenvolvidos por Budistas para complementar as suas meditações, sentados com movimentos que promovem serenidade e consciência;
- Medicina Tradicional Chinesa, onde o Qi Gong promove a saúde em geral e é, como tal, uma prática recomendada pelos Médicos de Medicina Chinesa como medida de prevenção e/ou meio restaurativo do equilíbrio geral do organismo (algumas formas de Qi Gong são incrivelmente poderosas e podem ser usadas para fortalecer órgãos específicos);
- Artes Marciais, visto que a prática de Qi Gong melhora significativamente a performance. Os praticantes de Artes Marciais desenvolveram algumas formas de Qi Gong para apoio da sua prática.
O Qi gong evoluiu do sistema desenhado por Bodhidharma, o vigésimo oitavo patriarca após Buda Shakyamuni e pai do Budismo Chinês Chahn, que foi mais tarde adoptado pelo Japão e evoluiu para o que se conhece hoje como Zen.
Qi Gong (??) pode ser traduzido como cultivar ou nutrir a força energética vital. É um método que inclui movimentos coordenados com a respiração, posturas corporais e a intenção de mover a energia vital para promover saúde. É meditativo e simultaneamente purifica e fortalece, permitindo que a energia circule. Normalmente, é praticado individualmente, embora também exista o chamado Qi Healing onde – de forma idêntica ao Reiki - o terapeuta pode assistir o paciente na movimentação do fluxo de energia.
Existem diversos tipos de Qi Gong e todos eles se baseiam nos princípios de ter as costas direitas, ter uma postura bem enraizada, estar relaxado, respiração focada em movimentos do diafragma e estabelecer uma intenção com consciência ao longo da prática para harmonizar o fluir de Qi no corpo e a conexão com a energia da natureza para equilibrar o organismo. Os principais centros energéticos do corpo humano (conhecidos como Dan Tiens no Taoismo e Medicina Tradicional Chinesa e algo equivalentes a Glândulas no sistema Ocidental) são curados e equilibrados através da prática consistente de Qi Gong. O Qi Gong melhora a saúde geral e contribui para a longevidade, criando um estado mental de serenidade.
Para além de promover um estado de equilíbrio e ajudar a aliviar o stress, o Qi Gong também é útil para melhorar a performance em desporto e em artes marciais, uma vez que desenvolve força, flexibilidade, equilíbrio, velocidade, coordenação e resistência, à medida que simultaneamente fortalece a fáscia (estrutura de tecido fibroso que envolve músculos, vasos, nervos ou órgãos e que basicamente dá forma ao corpo humano). Para além disso, é uma ferramenta poderosa para auto-consciência, uma técnica de mindfulness, que promove um estado meditativo, a raiz para o despertar espiritual.
Também pode ser usado para curar, onde – similarmente ao Reiki – um terapeuta especializado se torna um veículo de transmissão de energia nas áreas onde o paciente necessita de apoio, sem tocar no corpo, a chamada Terapia de Qi. Os Mestres de Qi gong conseguem elevar, controlar e direccionar a força energética vital pessoal e universal e usar esta energia para abrir canais específicos do corpo do paciente. Normalmente, um iniciante em Qi gong tem um regime intensivo de exercícios, dieta e meditação. Sendo que, após muitos anos de prática, atingem o que parecem poderes sobre-humanos de cura, de auto-defesa e de manifestação espiritual de necessidade físicas. Tal como o Reiki, o Qi gong também pode ser praticado por qualquer pessoa de qualquer idade.
Práticas Complementares
Com experiência em ambos os sistemas, posso dizer que estas práticas são complementares e beneficiam largamente quem as pratica. Os benefícios pessoais de abrir a órbita microcósmica (circulação interna de energia) quer através do Reiki, quer através do Qigong são incríveis para a vitalidade de qualquer praticante.
A prática consistente de Qigong e a incorporação dos seus princípios no dia-a-dia contribui para fortalecimento físico, equilíbrio mental e emocional e empoderamento espiritual, pelo que é um benefício acrescido do qual todos os praticantes de Reiki iriam beneficiar. A simplicidade da utilização do Reiki, combinada com os seus poderosos resultados também tornam esta técnica a companhia ideal para qualquer praticante de Qigong ou artes marciais. Há diversas formas de integrar os princípios do Reiki numa prática integrada com Qigong (ou até mesmo Tai Chi, Nei Gong ou Kung Fu) tudo dependendo do histórico e da imaginação do praticante (é importante que a pessoa esteja bem enraizada na sua arte previamente). O Reiki e o Qigong desenvolvem enorme percepção a nível intuitivo, promovendo a capacidade de compreender melhor as emoções e a energia de quem nos rodeia, entender o nosso lugar no mundo e interagir com todas as fases da natureza. Filosoficamente, estas duas práticas são um par ideal de yin e yang.
Devo também relembrar que o Reiki e o Qigong, não são uma cura para todas as maleitas, mas sim uma forma de vida, uma filosofia de vida, com base em equilíbrio e saúde, promovendo e nutrindo vitalidade no dia-a-dia. O que observo, nos tempos modernos nesta globalização que temos vindo a viver nas últimas décadas, é que temos oportunidades sem precedentes, de beber de diversas fontes e integrar os aspetos positivos de diversas culturas e filosofias para a implementação de saúde e bem-estar no nosso dia-a-dia. Isto engloba não só a forma como agimos (o que fazemos, o que comemos, como dormimos, como treinamos o corpo), mas também os nossos pensamentos e as nossas emoções (como nos conectamos com a nossa energia, como treinamos a mente). Nós somos a soma de tudo o que pensamos, sentimos e fazemos, sendo que energeticamente, os pensamentos que alimentamos acabam por originar tudo o resto. É, portanto, fundamental cuidarmos de nós próprios em equilíbrio e cultivarmos vitalidade em tudo. Este princípio de conexão cósmica era conhecido como Yang Sheng Tao ou a arte de nutrir a vida. Quer o Reiki, quer o Qigong podem ser componentes importantes desta forma de ser e estar.
Natália Costa
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