A Dimensão Social da Nova Era (Parte III)
Por Daniel José Ribeiro de Faria em Dezembro de 2022
Até meados da década de 1990, a espiritualidade da Nova Era difundiu-se sobretudo nos Estados Unidos da América, no Canadá, na Europa Ocidental, na Austrália e na Nova Zelândia.
Nas primeiras décadas do presente século, tem havido igualmente uma difusão nos países asiáticos, nomeadamente Taiwan, China, Coreia do Sul e Japão.
Tudo indica que se torne a espiritualidade da Nova Era se torne mais visível, nomeadamente nas sociedades mais desenvolvidas do planeta.
Com efeito, de acordo com as investigações sobre a pertença religiosa, a categoria “espiritual, mas não religiosa” é uma das tendências de crescimento mais rápido nas sociedades ocidentais.
Neste contexto, a espiritualidade da Nova Era, baseada na liberdade individual e no ecletismo, torna-se claramente apelativa.
O grau de envolvimento dos indivíduos na Nova Era é diverso. Paul Heelas considerou que os indivíduos envolvidos podem ser divididos em três grandes grupos. O primeiro engloba os indivíduos dedicados inteiramente aos ideais da Nova Era, grande parte dos quais exercem atividades profissionais conducentes com a prossecução destes objetivos. O segundo grupo, constituído pelos denominados "temporários sérios", é formado por indivíduos que trabalham em áreas não relacionadas, mas que dedicam uma grande parte do seu tempo extraprofissional em atividades ligadas à Nova Era. O terceiro grupo é formado pelos "temporários casuais", indivíduos com uma participação ocasional nas atividades da Nova Era.
Sara MacKian também defende três níveis de envolvimento, embora com designações diferentes em relação a Paul Heelas: os praticantes "consultores" que dedicam as suas vidas à Nova Era, os praticantes "sérios", que dedicam um empenho considerável nas atividades da Nova Era, e os "consumidores não praticantes", indivíduos recetivos aos valores e às práticas da Nova Era, mas com uma participação casual.
No que respeita às práticas de Nova Era, uma grande parte das populações das sociedades ocidentais já procurou terapias alternativas.
A espiritualidade da Nova Era tem igualmente uma dimensão comunitária, o que tem feito através de diversas formas. Uma destas formas é a formação de comunidades intencionais, onde os indivíduos se reúnem para viver e trabalhar em um estilo de vida comunitário. Na área da educação, muitos grupos da Nova Era estabeleceram suas próprias escolas para a educação infantil e juvenil, embora noutros casos esses grupos procuram promover os valores da Nova Era em instituições educativas já existentes. Na área da saúde, tem havido um grande desenvolvimento dos centros de terapias. As conexões online têm contribuído para a dinamização de redes e de contactos entre indivíduos ligados à Nova Era.
Portugal não tem sido exceção, no que se refere à influência da Nova Era. Nas últimas décadas, a situação de domínio do campo religioso da sociedade portuguesa pelo catolicismo já não verifica, embora continue a ser a principal confissão religiosa. Pode falar-se inclusive numa situação de pluralização religiosa.
A investigação da Dalila Monteiro teve um papel fundamental no conhecimento do impacto da Nova Era nas práticas espirituais na sociedade portuguesa. Segundo Dalila Monteiro, estamos perante um novo paradigma social e cultural, baseada na transculturalidade, ou seja, na interpenetração de culturas orientais e ocidentais. A transculturalidade promove uma meta cultura espiritual, largamente difundida através de meios tecnológicos, como a Internet. Dalila Monteiro considera que estamos a assistir ao advento de uma nova era com a espiritualidade da Nova Era, no contexto de mundo que busca o equilíbrio entre o yin e yang social. Na sua perspetiva, estamos a assistir ao desenvolvimento de um novo paradigma, que valoriza a conexão com a natureza e o cosmos e, consequentemente, mais próximo do sentido e do significado profundo do que é ser humano.
Daniel José Ribeiro de Faria
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